O setor da construção tem apresentado resiliência no enfrentamento das dificuldades surgidas desde o início da pandemia. Entretanto, a retomada da construção não está se verificando de forma igual entre os segmentos da cadeia produtiva.
Os indicadores de vendas e lançamentos da indústria imobiliária apontam crescimento no primeiro semestre, porém não expressivo, em função da baixa base de comparação, representada pelo mesmo período do ano passado, quando se iniciou a pandemia.
As concessões de crédito imobiliário batem recordes. Mas na rodada da Sondagem da Construção realizada pela FGV em julho, a maioria das empresas de Edificações já assinalava que a situação atual dos negócios estava fraca, com redução da atividade.
Esta percepção pode indicar que a melhora do mercado não está disseminada por todo o país, segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Sinal disso é o que revela a pesquisa mensal do Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R) da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que mede a evolução dos preços dos imóveis novos em dez capitais. No primeiro semestre, esses preços subiram em média de 6,04%. Mas enquanto na cidade de São Paulo o aumento foi de 10,23%, Fortaleza registrou 1,75% e Recife, 2,05%.
De um lado, há expectativa de melhora, como revela na Sondagem o indicador de Preparação de Terrenos. A elevação da atividade nesta fase do empreendimento denota que nos próximos meses haverá aumento futuro do volume de obras.
De outro lado, os preços dos insumos de construção aumentaram 34,52% no acumulado de 12 meses até julho, puxados por altas exorbitantes como as dos preços dos materiais metálicos, que subiram 84,09%. O impacto se refletiu principalmente na postergação de lançamentos de empreendimentos imobiliários.
Repassar todos estes aumentos aos preços dos imóveis tornou-se praticamente impossível. Foram afetados tanto os empreendimentos de médio e alto padrão, quanto os destinados às famílias de baixa renda no programa habitacional Casa Verde e Amarela. Neste caso específico, espera-se que o Conselho Curador do FGTS aprove a elevação dos preços máximos de contratação das unidades habitacionais e das curvas de subsídios.
Para além da inflação, as questões que se colocam são o impacto da crise institucional e do andamento das reformas. A reforma administrativa, mesmo não tão profunda como desejável, parece tramitar bem. Se aprovada, transmitirá uma sinalização positiva ao mercado.
A reforma tributária precisa ser redesenhada de forma a atingir seus objetivos originais. O açodamento em sua aprovação sem uma discussão mais profunda só fará aumentar a insegurança dos investidores.
“Já a crise institucional precisa arrefecer. É preciso insistir: as prioridades nacionais são debelar a pandemia, restabelecer a confiança e voltar a gerar milhões de empregos, diminuindo a crise econômica, política e social’, conclui Ana Maria.
Fonte: Revista Grandes Construções